12 de jun. de 2012

Crônica de uma pseudo aliança

O Partido dos Trabalhadores decidiu, já fazem 6 anos, aliar-se ao grupo político nascido sob comando da tradicional família dos Ferreira Gomes, no intuito de isolar o projeto até então hegemônico no Ceará, liderado pelo PSDB. A tática de aproximação com a “República de Sobral” funcionou e, em apenas 4 anos, o PSDB já amargava forte declínio.
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Passada esta etapa, esfria a relação entre a nova direção do PSB (agora completamente dominada pelos Ferreira Gomes) e o PT de Fortaleza, cujo diretório municipal tem sido historicamente digirido pelas correntes mais à esquerda do Partido. Na realidade, mais do que frieza das relações, percebe-se que depois de derrotar Tasso, é iniciada a ação daqueles que, de ambos os lados, queriam o fim da recente aliança.
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No caso do PT a ação manteve-se principalmente interna, com poucas aparições e consequências. No interior das tendências, principalmente em Fortaleza, eram constantes os debates sobre as limitações da aliança e cada vez mais exigida uma postura autônoma do PT para a próxima conjuntura municipal.
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Do lado do PSB, porém, os ânimos não puderam ser contidos. Os problemas começaram a ser externalizados rapidamente. Ciro Gomes, pouco afeito à existência de posições diferentes da sua, disparou incessantemente contra o PT e o Governo Municipal de Fortaleza. Noutro flanco, na Casa Civil do Governo Estadual, o Secretario Arialdo Pinho, por sua vez, passou a operar no âmbito do secretariado do Governo Cid contra as políticas públicas do Governo Luizianne. O Estado passou a reduzir mais ainda sua ação social em Fortaleza, focando-se nos grandes projetos como Pavilhão de eventos e Acquário.
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Com efeito, os elementos que caracterizam uma aliança foram sendo paulatinamente perdidos no seio dos quadros do PSB. A defesa pública foi substituída pelo ataque. A postura do Governo do Estado para com a Prefeitura mudou e seus secretários passaram de apoio\suporte ao ataque contra a gestão municipal.
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A insatisfação no PT aumentou. Qualquer plenária em Fortaleza trazia a reclamação acerca do motivo de ter-se que defender constantemente, de público, em situações constrangedoras, exatamente o grupo dos Ferreira Gomes, de onde eram recebidos os principais ataques.
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Por fim, após mais de um ano de gradual afastamento, veio o ultimato do PSB: o Governador queria escolher o candidato do PT em Fortaleza. Evidentemente, repetiu-se: a base se mobilizou para indicar um dos seus, de forma autônoma. Sabe-se que a militância do Partido dos Trabalhadores na capital é, sem dúvida, diferenciada. Com organização e capilaridade na maioria dos bairros e categorias de trabalhadores, essa força demonstra vigor principalmente quando se sente desafiada e/ou tolhida. Dirigentes hábeis, a exemplo de Luizianne, caminham nesse fluxo.
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Por sua vez, Elmano era o nome ideal para o tipo de missão que se avistava. Vindo das plenárias populares do orçamento participativo, foi aclamado nas urnas petistas exatamente porque se encaixava perfeitamente nesse sentimento das bases. Era o filho da conjuntura para o futuro. Com efeito, mais uma vez os substratos políticos em torno do Governador, como os Renegados Ciro e Arialdo, resumiram seu esbravejar em não querer o candidato da base do PT. Ora, claro que jamais aceitariam. Agora, fazem como o rei Xerxes da Persia, desembarcando felizes e gananciosos nas praias gregas, para ingênuos enfrentarem um bloco compacto e impenetrável em uma aventura épica onde representam o atraso.
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Desta feita, de qualquer ponto de vista, o Governador Cid certamente cometeu um grave erro. Não agora, talvez um ou dois anos atrás, quando permitiu o início das rusgas. Mostrou fraqueza. Cercou-se dos irmãos sem habilidade e de petistas adversos à Luizianne (como Salmito), talvez propositadamente. Selou assim seu destino: enfrentar (a troco de nada) uma força perene, militante e apaixonada.

Um comentário:

Jana Alencar disse...

Humm...texto muito bom, esclarecedor e instigante! Mais uma vez, você - como um bom historiador e sujeito político que é - conseguiu externalizar e esclarecer esse emaranhado de relações confusas, através de palavras medidas, com açúcar, com afeto e ainda com uma pitada de prosa poética: "os substratos políticos em torno do Governador(...)fazem como o rei Xerxes da Persia, desembarcando felizes e gananciosos nas praias gregas, para ingênuos enfrentarem um bloco compacto e impenetrável em uma aventura épica onde representam o atraso".
Arrasou! Gostei muito!